quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Sonhando o Pesadelo


Estávamos em algum lugar claro, 
diferente dos que já estivemos antes 
uma piscina rasa e limpa dividia a rua em dois lados:
um lado com o chão branco e outro um jardim abandonado, com terra viva e poucas árvores.
tudo era cercado por paredes brancas azulejadas 
Ele descansou um pouco em um tronco.
Era claro como uma pele branca e eu admirei uma pedra enorme 
colada ao tronco, coberta por briófitas.
Perfeitos juntos, como uma cena montada.
Eu vi ali a minha bagunça e medo
Meus passos se afastaram aos poucos, só pra conhecer minha prisão  
e meus olhos deram  forma ao tronco que  terminava abaixo da pedra. 
Eram braços e pernas, marcas e uma cintura linda gélida, um corpo meio enterrado na terra 
com a cabeça enterrada embaixo da enorme pedra.
Um corpo limpo, com flores vivas enraizadas vivendo a minha peça teatral.
...Apenas eu corri pra me esconder do medo da beleza morta
do gélido conforto daquele abraço fúnebre,
do amor que eu enterrei.

sábado, 27 de dezembro de 2014

Poemando

Que existam beijos,
mas nenhum será igual ao seu, assim perfeito.

Por todos os tipos de  abraços,
nenhum será tão quente quanto o seu.

Por todos os olhares já olhados,
nenhum será tão doce quanto o seu.

De todas as voltas que o mundo já deu,
a mais importante foi a que te trouxe pra mim.

De todas as batidas distraídas do meu coração,
as mais fortes foram por você.

E, Meus passos talvez demorem numa longa caminhada, 
talvez parem numa pedra e descanse,
posso ousar-me perder-me no escuro,
mas aquele fiozinho que está amarrado aos nossos dedos 
me levará de volta a você.

Meu lindo amor.


terça-feira, 25 de novembro de 2014

Nós

Você sempre fez as escolhas,
a comida que lhe agrada
a bebida que lhe embebeda
a roupa que lhe atrai.

você sempre abre a boca e fala
do que te incomoda 
do que te atrasa
do que é conveniente.

você usa sempre sua imaginação
pra me acusar de coisas que nunca fiz
desenhar todos os meus defeitos 
me pintar como objeto.

Sua semana é sempre cheia e sem espaços pra mim 
Seu fim de semana é sagrado para seus irmãos 
presentes ou não
sua necessidade única é macho e bola.

Você me afasta todo dia 
me congela todo dia 
me mostra que eu preciso viver só e apenas
me deixa e eu deixo.

Você me encontra todo dia 
Eu não me encontro mais na gente 

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

É a Vida

Acordar cedinho só pra ver o sol dar a luz 
escovar os dentes, um banho quente...
na mesa, torradas, manteiga e café. 
Suco, bolo e maçã.
Canela e leite.

Sempre as mesmas roupas 
sem audácias, 
uma sapatilha de bailarina 
e um lugar marcado no ônibus.

A mesma janela aberta,
ventilando o mesmo vento
cantando os pneus nas mesmas ruas
aqueles olhos que fingem ver
mas que não estão vendo.

A parada nunca é a última
depois descer uma ruazinha
e chegar ao prédio mais achatado.
Subir as escadas (elevador é melhor) 
sentar (ou ficar de pé)
e falar (verbalizar e bláblá)

O caminho da volta pode mudar 
mas sempre é muito do mesmo 
sempre num ônibus, 
mergulhando na janela 
soprando junto com o vento

A noite  (cedo ou tarde) 
TV, livro e escrita
Umas letras todas erradas, 
mais voltada para cacografia 
um português ao avesso 
avessando a vida.
Dormir e acordar 
e refazer a rotina.
É a vida.







"Homem deveria virar mulher por um mês, com direito aos assédios e abusos."

E dores-.

domingo, 9 de novembro de 2014

O pecado de uma placa

O  grupo a quebrar meus olhos estava tomando banho na lama.
Uma lama gostosa no meio do transito da cidade
num dia estacionante de chuva em um engarrafamento e 
eu estava na janela chorando minha sorte de estar parada a uma hora 
dentro do ônibus.

Eles brincavam de chutar aquela água suja que os cobriam até os joelhos,
uns estavam com um pedaço de pau nas mãos e outros gritavam,
mas, dentre eles apenas um me amarrou pelo pescoço com uma corda 
este um, estava com uma placa de carro e esmagava uma lagartixa.
Ele pulava, ria e batia com a placa no animalzinho esmagando sua cabeça, 
suas patinhas, estourando suas vísceras. 
Este um, também arrancou o rabo do bicho
e depois de colar a lagartixa ao asfalto molhado como papel 
ele pisou naquela gosma e eu chorei.

Chorei porque queria interromper meu caminho para abraçar aquele menino
perguntar o por quê daquilo (que talvez fosse apenas por diversão mesmo "?")
proteger dos golpes que ele já havia de ter levado
de alimentar a fome do seu ser e corpo de cuidado

Chorei porque quis ser a lagartixa prensada no asfalto
poupar aquele ser insignificante da violência sem causa 
(porque, pobre animal, não conhece da vida humana nada)
chorei por pensei ser a placa, obrigada a trabalhar como arma e pecar contra seu ócio.

Enquanto eu chorava o sol tentou ocupar o mesmo lugar da chuva e
brilhou nos olhos do menino
o ônibus encontrou espaço para seguir o caminho e aos poucos 
a visão física do garoto foi se perdendo de mim
mas meus olhos, ainda molhavam de soluços minhas mãos
enquanto eu me imaginava 
tirando o garoto da rua e o prendendo em correntes em minha casa.

sábado, 1 de novembro de 2014

Semelhante a um doce


Como um palhaço pulando no picadeiro 
dando audiência ao  circo  
colorindo de risos os lábios alheios 

Como uma estrada única, 
mão dupla sem sinalização 
livre para atropelos
acidentes  e diversão

Como o edema 
queimando inflamação e
transbordando  exsudato 

Como uma lesão 
deficiente na ativação das plaquetas,
impedindo formação de fibrinas, 
deixando fluir hemorragia

Como uma bola de assoprar cheia, 
que se encanta pelo alfinete
namora sua cabeça 
e num beijo 
se desfaz estourando os gases.

É preciso lembrar de herniar toda expectativa de mim.




sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Monte pela metade


...Desejo de fingir não te desejar
te prender em minhas correntes
e te usar.

Algo como te deixar sair
esperando você voltar
de soltar suas mãos
e você pegar
de esquecer de ti
de te deixar.

sábado, 18 de outubro de 2014

Graça

Um pouco da mulher em alguma parte de mim
arranha minha falsa doutrina conservadora sobre 
o meu não direito de ter e ser.

O pouco da pequena raça feminina rasga minha 
consciência do que conquistei ou larguei até o caminho de hoje
Estou me arrastando.

O pouco da garota que me corta, 
me corta por um lado de prazer 
e me sangra de tanto querer o que se proíbe querer.

Uma implosão me bombardeia 
pelo injusto poder que  me permitem ter 
e contradiz a contração do que é jugoso pulsar.
Pulsando e desafinando as bulhas nas linhas do corpo
É o meu Corpo 
corpo preso, 
vendido, 
corpo de luta,
de alma
corpo que chora
que fala
corpo de poder
de mulher.





quinta-feira, 16 de outubro de 2014


Esse sexo só é foda 
com seus olhos e boca. 
Quando seus sussurros molham minha orelha, 
quando posso sentir seu gosto com os dedos. 
Só tem sentido quando posso varrer seu corpo com a língua 
e fazer ouriçar seus pelos de desejo
Só é foda quando te devoro com as unhas
quando te arranco os cabelos.

Esse gosto só gosta 
quando o sangue transpassa os poros 
transpirando o calor de dentro 
pulsando numa bomba explosiva 
cada gemido de gozo
todo nosso pensamento.


Foto: Francini Ramos 

quarta-feira, 15 de outubro de 2014


São letras, 
 e todas elas caminham em mim 
me emoldurando 
me enlouquecendo.
Me molham quando formam chuva 
e me marcam quando machucam.
São minhas agressões contra teu olhar jugoso
São minhas agressões contra a distância minha do seu corpo
são meus gemidos mais perversos escondidos no escuro 
São minhas não suas
E são apenas letras 
Elas, eu apago,
mas de mim não apago teus olhos.




domingo, 11 de maio de 2014

Em antônimos

"Esse asco que entra aos poucos por meu sangue lava minha alma
decresce meu ser   em insignificância e me endurece.
Todo pirronismo que encharca descaradamente meu corpo 
ouriça a pele pilosa e me excita.
descarada picardia.
E você estulto  me esmadriga de ti.
Me obriga a desistir e
Me abstenho em te amar."

"...ME FALTA EMOÇÃO..."

Peça

Quem lê os seus lábios?
Com quem você divide suas fotos?
Quem compartilha dos seus medos e desejos?
Com quem você troca risos?
Quem  invade seus sonhos?
Com quem você divide seus segredos?
 
Eu não faço parte de sua vida, 
não conheço seus dias,
não ouço seu sorriso 
nem compartilho dos mais divertidos olhares.
Não sou eu quem fica com as fotos
ou com a atenção e cuidado
não sou eu quem conheço seus passos 
e nem eu quem lê os seus lábios.

Quem sou eu?

Participo como coadjuvante 
andando perdido pelo anfiteatro 
esperando o protagonista te pegar no colo 
e te conduzir a uma dança no palco.
Participo como um servente que 
te serve organização e um perfeito compasso,
mas no final, me escondo entre as pilastras do teatro.

Nota*

"E eu o amo como se só existisse ele no mundo,
aceitando os defeitos e a incapacidade 
que só ele tem em se recusar a mudá-los
mas meu medo em loucura 
é que eu mude e 
me transforme num monstro disperso 
que recusa a si próprio 
pra viver a vida que é do outro.
Estando apenas presente, não sendo parte."

sábado, 10 de maio de 2014

Nota



"Possessão, é a patologia dos pais,
psicopatia dura de uma vida de falas tão mansas que soam como nuvens leves, vazias.
possessão é a patologia da carência dos filhos
psicopatia da dependência de um cordão umbilical para nutrição e desenvolvimento.
Doença.
É essa patologia que mata e destrói relações a dois.
Me mata."




domingo, 9 de março de 2014

ZZz





"Apesar do tempo e das circunstâncias
ele é meu verdadeiro amigo,
o único no qual eu confio e vou confiar sempre."


domingo, 2 de fevereiro de 2014

ZzZ



De conselhos a conselhos minha filha, você não os quer.
rejeita todos os caminhos que eu te dito e quer crescer pra ser mulher
doce criança frágil, você tenta vestir uma armadura sólida
esquece que seu coração não me engana e seus olhos molham meu ombro de joelhos na cama.
de conselhos a conselhos meu amor, você os achou melhor esconder.
tentou andar sem as mãos dadas e já ferida não sabe o que fazer.
frágil menina estranha, eu te tenho olhado quando sozinha
leio seus pensamentos perdidos e reescrevo pra ti novas linhas.
de conselhos a conselhos minha querida eu não vou te deixar esquecer
vou levantar seus olhos, esquecer os erros e te ensinar a crescer.

Por favor...

sábado, 1 de fevereiro de 2014

"Muito amor e muita loucura dentro de um só coração!"

Livro colorido


Nós dois pegamos o lápis e riscamos o lado errado.
desenhamos uma vida que não era nossa 
compramos apenas cores suaves e transformamos em pintura animada um livro gigante.

Nós colamos papéis sem perceber que a cola colava 
cortamos jardins e enfeitamos quadros, folhas,
enfeitamos cadernos e o resultado guardamos na estante...

Você sente falta do que tinha e eu de quem sou
você se ilude em me amar e eu me iludo no amor.

Nós fazemos mal uso da autoridade
você consegue ser um alfa 
e eu encolho minha capacidade de organização.

Nós colorimos o que o ego pinta de preto 
você finge e se banha em razão
você late mais alto 
eu fecho o portão.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

"E se não for amor, eu não sei o que é."





Provérbios 16.18



Ele acha que a força do braço dele é sua dignidade 
Ele acha que tudo o que ele tem é mérito de seus esforços
Ele late uma falsa modesta o pouco que ele sabe, 
Ele é tolo, mas se veste de esperto
Ele só ouve a voz da sua razão e destrói tudo o que toca
Ele não prospera e o que ganha joga aos porcos, 
Ele não consegue juntar a grana.
Ele conta o passado como se fosse uma maldição do presente
Ele não perdoa sua falta de sucesso
Ele culpa  todos a sua volta por algo não dar certo
Ele nunca admite um erro 
Ele nunca divide uma graça
Ele é devorado pelo ego 
Ele vai afundar na desgraça.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Aquela escada



O tempo poderia parar naquela escada
e tornar a vida simples e gostosa.

Poderia estagnar naquele abraço 
e fazer dele eterno.

A escada poderia me acompanhar no escuro, 
ser meu abrigo  e durante as noites de tempestades
poderia ser o motivo certo para me fazer sorrir. 

O meu tempo poderia ter parado naquela escada 
e eu a amaria eternamente.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014



Aquele pássaro preso, doente e fraco. 
como uma fênix a um fio de pegar fogo, 
que precisa morrer pra se reerguer das cinzas sombrias e quentes.
Pra começar um novo ano de vida.


O gato em mim




O gato dentro de mim, arranha as paredes de meu ser e me faz gemer todos os meus defeitos 
 canta às luas minguantes, minguando em mim a certeza dos meus poucos acertos 
ele mia minha estafa e ronrona minha incapacidade de autoridade.
 me entontece como o álcool da minha taça que soa num calor de morte.

O gato dentro de dentro que afia as unhas do desprezo
me apodrecendo por dentro, brinca com as moscas que me comem de dentro.
A grande morbidade do ser que o gato tomou posse
Uma marionete do fungo ilusão da vida.