domingo, 9 de novembro de 2014

O pecado de uma placa

O  grupo a quebrar meus olhos estava tomando banho na lama.
Uma lama gostosa no meio do transito da cidade
num dia estacionante de chuva em um engarrafamento e 
eu estava na janela chorando minha sorte de estar parada a uma hora 
dentro do ônibus.

Eles brincavam de chutar aquela água suja que os cobriam até os joelhos,
uns estavam com um pedaço de pau nas mãos e outros gritavam,
mas, dentre eles apenas um me amarrou pelo pescoço com uma corda 
este um, estava com uma placa de carro e esmagava uma lagartixa.
Ele pulava, ria e batia com a placa no animalzinho esmagando sua cabeça, 
suas patinhas, estourando suas vísceras. 
Este um, também arrancou o rabo do bicho
e depois de colar a lagartixa ao asfalto molhado como papel 
ele pisou naquela gosma e eu chorei.

Chorei porque queria interromper meu caminho para abraçar aquele menino
perguntar o por quê daquilo (que talvez fosse apenas por diversão mesmo "?")
proteger dos golpes que ele já havia de ter levado
de alimentar a fome do seu ser e corpo de cuidado

Chorei porque quis ser a lagartixa prensada no asfalto
poupar aquele ser insignificante da violência sem causa 
(porque, pobre animal, não conhece da vida humana nada)
chorei por pensei ser a placa, obrigada a trabalhar como arma e pecar contra seu ócio.

Enquanto eu chorava o sol tentou ocupar o mesmo lugar da chuva e
brilhou nos olhos do menino
o ônibus encontrou espaço para seguir o caminho e aos poucos 
a visão física do garoto foi se perdendo de mim
mas meus olhos, ainda molhavam de soluços minhas mãos
enquanto eu me imaginava 
tirando o garoto da rua e o prendendo em correntes em minha casa.

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