quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Parasitando

Atirei na primeira letra do meu nome desprezando todo sentido que ele trazia 
me desfazendo do  poder da vogal e me abstendo dessa vida, escrevi.
Nessa peça que escrevi, escrevi com o sangue que saia da boca 
e dos enjoos matinais sem motivos
Escrevendo, quebrei os dedos.

Buscando um motivos para emoções que não fossem a incapacidade de 
sentar no sofá como um vagabundo
nem me morder de ciúmes por amizades infames
Ela, como miava sorridente, mostrou-me o quanto cansável era passear com o dono na praça,
disse que eu não bebia do mesmo leite e que achava bom um bom porre (as vezes). 
Não nessas palavras...

Eu um homem feito e cheio de vida, deixei que ela largasse a minha mão na rua, por brincar com um cachorro em exposição, e sem me olhar nos olhos dissesse que sentia vergonha de mim. 
Fiquei ali remoendo a humilhação e vendo, ao menos em minha imaginação, os olhos alheios fofocarem sobre mim. 
Ela superior em graça balançava o rabinho da beleza e magnitude sábia.

Mais uma vez meu orgulho másculo látia em meus ouvidos 
e meu coração de fêmea choramingava: foi só uma vez.
Dentre meus amigos, todos, gostam de abraços e beijos 
eles os recebiam gratuitamente, mas nunca foi fácil convencê-la de me manter 
familiarizado com esses atos. 
Não sei se foi mais humilhante ouvir ela dizer que sente vergonha de mim 
ou ser afastado toda vez que lhe tentava dar um abraço ou um beijo.

Com as horas contadas pelo nascer sol e avermelhado do crepúsculo fui me cansando 
de conter as palavras, e me dando corda para sair de casa.
Não era mais um homem casado. 
Era um homem que saia de casa, trabalhava, ria com os amigos e dormia a noite tranquilamente só. Minha mulher nunca gostou de me esperar acordada.
Então hoje, mais vazio que um copo de cerveja (filosofando como os companheiros) 
não me sinto morno nem quente, não me sinto vivo nem morto, não me sinto disposto ou cansado,
sinto que sou só e que mudanças não vão ocorrer por mim, nem irei aceitar mudanças dela.
Mudei de nome e de sabores, degustei a mim mesmo trancado no escuro, arranquei as características da vida e vi que em anos eu fui um sanguessuga.

Sou o homem frio.

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